Prémio BPI | Fundação La Caixa: do sonho à realidade!

Estávamos em fevereiro de 2024 quando recebemos a notícia de que a candidatura ao Prémio Capacitar, do BPI / Fundação La Caixa, para promoção da autonomia de pessoas com deficiência ou doença mental, ia abrir. Nesta altura, partindo de objetivos existentes, as ideias começaram a fervilhar. O facto de termos tido uma experiência muito positiva com uma pequena horta e galinheiro no anterior espaço onde o CACI desenvolvia as suas atividades, acrescido da abertura do concurso e a oportunidade recentemente surgida de aproveitar um terreno anexo à localização onde o centro opera, foram as alavancas para que a equipa técnica se propusesse a esboçar um projeto de criação de uma nova horta pedagógica e sensorial com um galinheiro. O objetivo primordial era reunir todas as condições de acessibilidade para uma real inclusão dos nossos utentes por forma a poderem usufruir e participar de uma forma ativa ou passiva do mesmo. 

Mas quem poderia legitimar a nossa proposta de criação de uma horta pedagógica e sensorial e de um galinheiro totalmente inclusivos? Os nossos utentes, claro! São eles os principais protagonistas dos nossos objetivos enquanto parte de uma Instituição cujo primordial propósito é ajudar a comunidade onde se insere! Os seus interesses e motivações são o que nos impulsiona na jornada, que devia ser de todos e não só nossa, pelos direitos e respeito pela pessoa com deficiência! Demonstrando o valor desta intenção, os colaboradores da valência, familiares dos utentes e comunidade ribeiragrandense em geral apoiaram este projeto. Tornaram-no numa melodia em uníssono!

Ao longo dos quase 23 anos da existência do CACI a sua ação tem-se focado, principalmente, no sentido de derrubar e/ou atenuar as barreiras visíveis e invisíveis existentes na nossa comunidade. Estas barreiras traduzem-se na falta de reconhecimento (infelizmente generalizada pelo cidadão comum), dos direitos da pessoa com deficiência, não sendo promovido o respeito pela sua autodeterminação e pela vontade própria. Um dos motes desta candidatura foi “Se é acessível para pessoas com deficiência também o será, certamente, para todos”! Valorizando as necessidades de determinado indivíduo estenderemos, naturalmente, a facilidade de acesso aos restantes membros da comunidade. Daqui podemos falar em “desenho universal” uma vez que este projeto está pensado na sua génese para ser utilizado por todas as pessoas.

Do pensamento à elaboração da candidatura, 3 semanas passaram a “voar”: a escrever e a reescrever, para que, quem o lesse, percebesse exatamente o que pretendíamos. Passou também por tentar arranjar parceiros significativos para esta causa, que pudessem dar sustentação a este projeto, de forma a que tivesse hipótese de ser escolhido entre o grande número de candidaturas a nível nacional.

As horas, dias e meses passaram…

Finalmente tivemos a boa nova de que a nossa aspiração havia tocado a organização e que tínhamos passado à fase de selecionados! As expetativas aumentaram, principalmente com as reuniões online com membros do júri para esclarecer algumas dúvidas na análise da candidatura. De vez em quando surgia aquele “nervoso miudinho” quando os nossos utentes perguntavam: “quando é que vamos para a horta?”. Mas tudo valeu a pena quando, em setembro, recebemos a notificação que, entre 98 candidaturas a nível nacional, o Nosso projeto “Colheitas do Norte” tinha sido selecionado! Foi o único na Região Autónoma dos Açores!

Quando cheguei a Coimbra, acompanhada do Sr. José Maria Teixeira, Membro da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, na cerimónia de entrega do Prémio BPI Capacitar, só me lembrava de uma frase, que guardei na memória quando desta cidade parti para iniciar a minha vida profissional: “Em Coimbra fui feliz!”.

Este foi um dos momentos da minha vida profissional em que senti que o trabalho árduo desenvolvido nesta nossa valência recompensa! Essa recompensa foi, nesta instância, termos alcançado o nosso objetivo PARA E PELOS NOSSOS UTENTES! São eles os grandes vitoriosos!

A nível pessoal foi um momento de humildade e de grande felicidade pela frase que sempre recordei! É como diz o grito académico:

– Então malta, e para os nossos utentes não vai nada, nada, nada, nada?

– Tudo!

– Mas mesmo nada, nada, nada, nada?

– Tudo!

– Então, com toda a cagança, com toda a pujança sai um…F-R-A!

 – Frá!

(…)

HURRA, HURRA, HURRA!!!

Sónia Rangel Melo
Coordenadora CACI